Qual é a ordem pela qual se mede o progresso humano?
Seria fácil responder algo simples com 'amor', 'progresso' ou mesmo 'conquista'. Mesmo a simples arrogância do primeiro homem que agarrou o primeiro machado, derrubou a primeira árvore e a transformou num barco para ltrajar a face do oceano pode ser uma resposta. Mas infelizmente este não é o caso.
A verdadeira resposta é 'medo'.
A humanidade progride e cresce com base no medo que sente. O primeiro homem sentiu medo do fogo até aprender a domá-lo e a usar seu poder para enfrentar as criaturas que o viam como presa... Tudo por temer tais criaturas ainda mais do que o presente que Prometeu dera aos homens em um gesto de gentil rebeldia contra os céus. Os homens não partilharam do abutre, mas compartilham do rochedo, destinados a padecer e crescer para padecer ainda mais.
Existem, porém, deuses que não compreendem esse simples fato. Deuses são, afinal, entidades imperfeitas e sua arrogância os leva a ignorar esse fato fundamental sobre sua existência, o que os torna tristemente incapazes de transcender. Suas mentes estão ocupadas demais pela droga e pelo mestre caprichoso e volúvel que é o orgulho para enxergarem as próprias imperfeições.
Contudo, dentre os deuses, há aqueles que possuem interesse na humanidade. Athena, por exemplo. Ó tola e pobre Athena, que se prendeu ao ciclo de reencarnação para viver entre humanos, governá-los entre eles, renascendo quando sua presença se fazia necessária. Seus pés mais uma vez tocam o mundo, caminhando entre os homens sem compreender que o medo é o que os motiva. Eles não amam a luz; eles apenas estão aterrorizados da escutridão e de tudo o que se oculta em seu véu.
Inocente Athena, que não compreende como humanos são seres aterrorizados com o pensamento da própria morte e lutam para não permitir seu fim prematuro. Tanto batalham para, no fim, serem envolvidos pelo funéreo manto que os deixa às margens do Aqueronte.
E Poseidon. Poseidon, que deseja esterilizar a Terra e tentar novamente. Poseidon, que busca expandir seus domínios, como um rio em cheia que transborda e reclama toda a terra que banha como sua. Sua inocência encontra par em Athena, ainda que por motivos distintos. Servido em sua corte e gozando de poder que transcende mesmo os reinos divinos, sua fome ainda busca mais, como o mar que, mesmo recebendo todos os rios do mundo, jamais está satisfeito.
Os deuses caminham entre os homens. Athena com passos delicados e discretos, Poseidon causando terremotos a cada sacudir de seu corpo, cada um lutando pela humanidade. Athena, por sua determinação. Poseidon, por sua insolência. E existem os humanos que procuram vias alternativas, oferecendo suas almas aos muitos caminhos que os ventos lhes oferecem, seja para o vício ou virtude.
Homens que desejam governar, homens que desejam ser governados, homens que lutam por honra e homens que lutam por despeito... Todos possuem medo e essa é a causa de seu sofrimento. Mas não temam mais.
Minha residência é grande e possui lugar para todos. Eu recebo todos alegremente em minha casa, mas, vendo a natureza humana debatendo-se tanto em sofrimento, eu não posso resistir.
Permitam que eu lhes ofereça a misericórdia suprema.
Saint Seiya - War of Blood RPG